terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Romário e a identidade de gênero.


 

O Deputado Federal Romário demonstrou que sua visão sobre identidade de gênero é bastante retrógrada, ao ser flagrado de mãos dadas com uma transexual, o ex- jogador escreveu em uma rede social que “gosta é de mulher”, prestando um desserviço à causa LGBT. Mesmo se dizendo amigo e camarada da pessoa em questão, Romário se mostrou extremamente preconceituoso com a garota e ainda fez piada dizendo que “certeza, casamento não sairá", esse tipo de comentário partindo de um “representante do povo” é totalmente inapropriado.
O Brasil é um dos países em que a classe LGBT sofre mais perseguições, com vários direitos negados pode se dizer que seus componentes são tratados praticamente como cidadãos de segunda classe.  Leis que visam amparar, proteger e conceder direitos a esse grupo de pessoas têm votação adiada ou são engavetadas no congresso o tempo todo, inclusive com a Presidenta Dilma Rousseff vetando um kit produzido pelo Ministério da educação e que se destinava a combater a homofobia nas escolas e utilizando a justificativa de que seu governo não fazia propaganda de opção sexual (SIC) , declaração que foi um golpe para o movimento, principalmente pelo termo utilizado que relega a orientação sexual a uma simples escolha do indivíduo. Parlamentares como Jean Willys e Erika Kokay que defendem a causa LGBT são ofuscados pelo fortalecimento da famigerada bancada evangélica que dizendo defender os valores da família atacam deliberadamente qualquer projeto que beneficie de alguma forma os homossexuais e chantageiam o executivo e o legislativo, ameaçando retirar apoio político caso esses projetam sejam aprovados. Tudo isso ainda foi agravado com a eleição para a presidência da Comissão de Direitos Humanos de um pastor evangélico com histórico de perseguições homofóbicas.

O pior nessa declaração de Romário é o fato de que entre os indivíduos que compõem o segmento de formação da sigla LGBT, os que se encaixam na letra T, ou seja, transgêneros, pessoas que não se identificam com seu sexo biológico, como a suposta amiga do deputado, são os de maior fragilidade social. Não consegui localizar dados brasileiros, mas pesquisa americana de 2010 indicou que 41% dos transgêneros naquele país já haviam tentado suicídio , a não aceitação de si próprio é resultado entre outros fatores dessa visão estereotipada que a sociedade tem dessas pessoas, o escárnio e a humilhação que lhe são imputadas a todo o momento. O Brasil não deve se encontrar muito longe desse quadro, isso se não estiver em situação pior, a perseguição começa na família e igreja, se estende a escola e se prolonga na vida adulta, são pessoas que acabam tendo muito mais dificuldade para conquistar seu espaço. Enfrentam burocracia para mudança de nome e de gênero nos documentos, agressões físicas e psicológicas e dificuldade para conseguir empregos, levando muitos a enveredar pelo caminho da prostituição, aumentando ainda mais a estigmatização.

Sendo, como declarou, amigo dela, Romário deveria ter sido mais cuidadoso com a forma de se referir, ele não é obrigado a se envolver com ninguém, mas é necessário que ele entenda que não é o sexo biológico que determina a forma como uma pessoa deve ser reconhecida, mas seu o gênero com aquela pessoa se identifica. Assim, uma pessoa que biologicamente nasceu homem, mas se identifica com o gênero feminino deve ser reconhecido como do sexo oposto ao de nascimento, se assim achar melhor. É bom lembrar que isso não tem relação com a orientação sexual da pessoa. Ao dizer que gosta é de mulher, ele não está só negando um relacionamento com uma pessoa, o que não seria censurável sob o ponto de vista da livre escolha, mas também está lhe negando o reconhecimento de gênero, reconhecimento que é caro para essa parcela da sociedade.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Alfred Hitchcock é Apresentado


Mesmo caindo na banalização, não é falso dizer que mais que o nome de um diretor, Alfred Hitchcock é uma marca. Além disso, ele pode muito bem ser apontado como o mais importante diretor de cinema de todos os tempos.  Ícone do suspense é talvez o único diretor reconhecido por cinéfilos e não cinéfilos sem ter trabalhado também como ator (como Chaplin, por exemplo).  Mesmo quem não gosta de cinema conhece ao menos a clássica cena do chuveiro de "Psicose", possivelmente a mais parodiada, homenageada, copiada e imitada na história do cinema. Até ai nenhuma novidade, mas dois filmes recentes resolveram dissecar um pouco mais de sua figura. Mostrar Hitchcock a partir de suas obras e seu relacionamento com os atores. Um filme para o cinema e outro para a TV procuram mostrar um pouco do método de trabalho do diretor. Ambientados em tempos próximos, ambos tem pontos de vista extremamente diferentes que vão da idealização à denuncia de assédio.

The girl foi primeiro. Filme feito para TV numa coprodução entre a inglesa BBC e a americana HBO tem uma visão bastante negativa do diretor e mostra seu relacionamento conturbado com ‘Tippi’ Hedren, atriz que trabalhou com o diretor em “Os Pássaros” e “Marnie – Confissões de uma Ladra”. O filme foca no período de produção desses dois filmes (lançados em 1963 e 1964, respectivamente). Já o outro filme intitulado ”Hitchcock”, mostra o momento imediatamente posterior ao sucesso do filme “Intriga Internacional”, quando o diretor se decide por produzir “Psicose” (lançado em 1960). Baseado no livro “Alfred Hitchcock e os bastidores de Psicose” do escritor e roteirista Stephen Rebello, fã do diretor e o último a entrevista-lo antes de sua morte em 1980, esse último filme pega mais leve com Hitch (como muita gente gostava de chamá-lo) e se concentra em mostrá-lo como bonachão, divertido e um idealizador visionário (um dos poucos pontos de intersecção com "The Girl").

"The Girl", assim como "Hitchcock", não pode ser considerado totalmente isento já que contou com a colaboração de Tippi Hedren em sua produção. A atriz foi descoberta pelo diretor em um comercial e alçada à condição de estrela pelo exigente diretor, que gostava de poder moldar suas estrelas femininas. Apesar de suas limitações Tippi era agradecida ao diretor pela oportunidade já que Hitch era o maior diretor da época e ela apenas uma modelo iniciando no mundo da interpretação. Isso deu a oportunidade para que Hitch utilizasse de seu sadismo em busca de captar emoções mais fortes dela em cena. Na produção de Os Pássaros ele chega a usar pássaros de verdade atacando a atriz em uma cena para dar mais realismo. O problema é que a atriz não foi avisada com antecedência e acabou se machucando, fazendo com que ela pensasse seriamente em abandonar as filmagens, coisa que possivelmente só não ocorreu pelo fato dela ter que honrar o contrato de sete anos assinado com o diretor, isso a obrigou também a estrelar o filme seguinte do diretor, “Marnie – Confissões de uma Ladra”. O ataque dos pássaros, porém serviu para que ela começasse a ver o diretor de outra forma e passasse a enfrenta-lo. É interessante notar que o filme “Hitchcock” mesmo com um clima mais “chapa branca” também mostra um lado mais autoritário do diretor. A porta voz disso é Vera Miles, atriz que antes havia trabalhado com o diretor em “O Homem Errado”. Ela iria ser a atriz principal de “Um corpo que Cai”, mas engravidou, o que aparentemente deixou irritado o diretor, que a colocou em "Psicose" para valer seu contrato ainda vigente. No filme Jessica Biel interpreta o papel de Vera, ela conta sua experiência anterior com o diretor para Janet Leigh, atriz da clássica cena do chuveiro, vivida aqui por Scarlet Johansson. Vera conta sobre sua mania de querer controlar as atrizes, querer decidir o que fazem e até a cor do cabelo que devem usar.  Nem um pouco animada em trabalhar com o diretor novamente ela talvez represente Tippi Hedren durante as gravações de Marnie, enquanto Janet Leigh, toda deslumbrada e agradecida seria como Tippi durante o início das filmagens de "Os Pássaros". Porém em “Hitchcock” Jéssica Biel só faz uma ponta e Johanssonn é praticamente uma das protagonistas, dessa forma a tentativa de isenção do filme só vai até certo ponto.

As únicas pessoas que são retratadas nos dois filmes além de Hitchcock (Tippi Hedren não é retratada em “Hitchcock” e os atores de “Psicose” não são retratados em “The Girl”) são Alma, a esposa do diretor e Peggy Robertson, fiel assistente de Hitch. É interessante notar as diferenças de caracterização entre as duas obras, Hitchcock é mostrado como uma figura carismática em “Hitchcock” e como autoritário, assediador e chato em “The Girl”. Anthony Hopkins de “Hitchcock” e Toby Jones de “The Girl” fizeram um trabalho de caracterização bastante eficiente, mudando suas fisionomias e seus tons de voz para se transformarem no diretor. Mas enquanto o Hitchcock de Hopkins é de certa forma sempre simpático, fala com uma ironia charmosa e mantém sempre um sorriso discreto no rosto, o de Jones é sombrio, carrancudo, algumas vezes assustador. É importante frisar que no filme para o cinema Hitchcock parece ser amado por todos, sempre contando seus causos e sendo motivo de admiração. Em The Girl ele também conta suas histórias, mas é ridicularizado pelos demais que o acham repetitivo e, algumas vezes, vulgar.

Alma Hitchcock, esposa do diretor, é mostrada com simpatia em ambos os filmes. Interpretado por duas importantes atrizes inglesas, Imelda Staunton, atriz indicada ao Oscar por “O Segredo de Vera Drake” e mais conhecida por fazer uma das vilãs na série Harry Potter, vive Alma em “The Girl”. Vencedora do Oscar por “A Rainha” (2006) e indicada outras três vezes, Helen Mirren é quem  interpreta Alma em “Hitchcock”. Ambas premiadas atrizes inglesas, e também muito conhecidas no teatro (já fizeram parte do prestigiada “Royal Shakespeare Company”). Imelda é 11 anos mais jovem que Helen mas isso não faz muita diferença nos filmes. Aliás Imelda às vezes parece mais envelhecida que Helen. De qualquer forma a diferença de tempo em que se passa cada filme é de um ou dois anos no máximo. Ambos mostram Alma como uma pessoa boa, envolvida com o trabalho do marido (em “Hitchcock” ela é mostrada como verdadeira coprodutora, inclusive revisando o roteiro e não deixando o diretor perder o controle do filme pra Paramount quando ele cai doente). A Alma de Helen é forte, decidida e muito prática, a de Imelda é mais caseira, dá suas opiniões, mas sempre num âmbito mais doméstico. A primeira vê as paixões platônicas do marido pelas estrelas dos seus filmes apenas como uma bobagem sem importância, a segunda se irrita e chega a pedir desculpas a Tippi pela forma como o marido a trata e depois de pegá-lo ligando para a atriz até sai de casa por um tempo. Até nos cenário da casa existe uma diferença significativa, enquanto em “Hitchcock” Alma e Alfred vivem em um casarão luxuoso, em “the Girl” vivem em uma casa confortável, mas com um estilo mais classe média. Por ser uma obra televisiva, “The Girl” obviamente tem menos recursos, porém o cenário talvez queira refletir um pouco do perfil da esposa do diretor apresentado por cada uma das produções.

Peggy Robertson, a fiel assistente de Hitchcock é interpretada por atrizes bem diferentes , em Hitchcock pela ótima Toni Collete(Sexto Sentido) e em “The Girl” por Penelope Wilton, atriz inglesa também eficiente. Só é estranho que, em Hitchcock ela seja uma mulher de meia idade e no outro seja retratada como uma senhora com seus 60 anos.

 Não sei até que ponto os produtores de “The Girl” tiveram o cuidado de descaracterizar seus personagens para evitar processos ou cobranças de direito de imagem, mas o fato é que, como citado anteriormente, além de Tippi Hedren nenhum outro ator que trabalhou em “Os Pássaros” ou em “Marnie” é personagem do filme. As reconstituições são legais, mas às vezes parece que ela sozinha fazia os filmes.  Um exemplo é uma reconstituição de uma cena de Marnie em que Tippi contracena com Sean Connery. Chega a ser mostrado alguém representando o ator mas só de costas.  Já em Hitchcock é um desfile. Scarlett Johanson como Janet Leigh refaz a famosa cena do chuveiro. Jéssica Alba interpreta Vera Miles que já havia trabalhado antes com o diretor e serve como um contraponto ao deslumbramento da primeira e o mais incrível é James D´arcy que praticamente se transforma em Anthony Perkins, a semelhança é enorme. O eterno Karatê Kid Ralph Macchio faz uma ponta como Joseph Stefano, roteirista de Psicose. Tem ainda Whitfield Cook que foi roteirista de alguns filmes de Hitchcock e aqui é retratado como interesse romântica de Alma. Por outro lado, o canastrão John Gavin, o galã de Psicose é relegado a segundo plano e com direito a um comentário nada lisonjeiro do diretor (até mesmo o cenário é mais expressivo que ele). Hitchcock nunca escondeu sua insatisfação com o ator e quem já viu o filme sabe que nesse caso não é só implicância.

Ambos os filmes são maniqueístas a seu modo, em “Hitchcock” o diretor é o mocinho, o herói empreendedor que às vezes tem algumas atitudes discutíveis, mas tudo em nome da arte. Em “The Girl” Hitchcock é o grande vilão. O sujeito manipulador e explorador que não se furta a transformar a vida da garota do título em um inferno. Se no início ele é apresentado apenas como um excêntrico, aos poucos suas diversas camadas de maldade vão sendo mostradas. Desde a tortura no set até a perseguição obsessiva nos bastidores e na casa de Tippi. Mas ambos os filmes possuem também qualidades. A maquiagem de Hitchcock em ambos é muito boa. A do filme “Hitchcock” chegou a ser indicada para o Oscar esse ano. “The Girl” é um filme para a TV e dessa forma acaba tendo suas limitações, mas, soube trabalhar bem o choque entre o diretor famoso e tirânico (segundo a visão do filme) com a garota sem experiência. Hitchcock tem algumas ideias interessantes, mas, em alguns momentos, parece reverenciar demais o diretor e se perde em alguns artifícios. Mas dá o devido destaque a Alma, ela é a verdadeira estrela do filme, Helen Mirren rouba a cena e consegue dar a dimensão da verdadeira importância que a Sra Hitchcock tinha na vida do diretor. Algo que “The Girl" não consegue muito bem já que Alma é retratada apenas como uma dona de casa.

Observação 1 - Em “Fascinado pela Beleza – Alfred Hitchcock e suas atrizes”, que de certa forma parece ter servido como fonte para algumas partes de “The Girl", Donald Spoto, biógrafo de Hitchcock conta muito sobre o sofrimento impingido a Tippi Hedren e algumas outras atrizes. Uma obsessão realmente, corroborando muito do que é mostrado no filme. Hitchcock a impedia a inclusive de ter contato com os demais atores, fato confirmado por vários colegas de elenco. Diane Baker, que também trabalhou em “Marnie” e igualmente sofreu assédio confidenciou: ““... a pior coisa era chegar naquele estúdio e vê-la sofrendo daquele jeito...” “... A coisa toda foi uma tortura para mim e, claro, ainda pior para Tippi...”. Então não dá para descartar o que está em “The Girl” como exageros. Mas também apesar da envernização não podemos dizer que “Hitchcock” seja uma mentira. Talvez apenas dois lados de um sujeito cheio de contradições

Observação 2: Sempre pensei que o nome da atriz Melanie Griffith,  fosse devido ao nome da personagem de Tippi Hedren (que é sua mãe) em “Os Pássaros”, também Melanie. Mas foi apenas coincidência, ela já tinha nascido quando a mãe filmou com Hitchcock e inclusive é retratada em "The Girl". Vivendo e aprendendo.

 

 

domingo, 4 de março de 2012

Psych homenageia Twin Peaks

Em primeiro de dexembro de 2010, a Série Psych apresentou o episódio Dual Spires em homenagem a série Twin Peaks de 1989. Como fã de Twin Peaks assisti o episódio para verificar se realmente era uma homenagem ou um desses presentes de grego.

O episódio é interessante, a série Psych, que eu não tinha visto antes, trabalha com o que os fãs de série chama de “crime da semana”, ou seja, não segue uma história em capítulos, mas uma aventura em cada episódio, como é comum em séries como Law & Order, Cold Case e CSI, dessa forma conseguiu encaixar uma história que lembrasse a de Twin Peaks(essa sim tinha história em capítulos) em 50 minutos.Tudo é bem feito e não desrespeita a série que marcou época e que já é um clássico. A seguir listo todas as citações e referências que consegui perceber:

Primeiro um pequeno resumo das duas séries:

Twin Peaks – Conta a história de uma aparentemente pacata cidade que tem sua rotina modificada quando Laura Palmer, uma jovem muito bem vista na cidade, é encontrada morta. O Agente Dale Cooper chega a cidade para investigar o crime e descobre que por trás das aparências Twin Peaks tem muito a revelar. Série de sucesso em 1989, teve duas temporadas.

Psych é uma série de televisão americana criada por Steve Franks e transmitida originalmente pelo canal USA Network. A série é estrelada por James Roday como Shawn Spencer, um jovem que trabalha como vidente do Departamento de Polícia de Santa Bárbara. O programa também é estrelado por Dulé Hill como o melhor amigo de Shawn e relutante parceiro Burton "Gus" Guster e Corbin Bernsen como o implicante pai de Shawn, Henry Spencer. (informação da Wikipédia). A série já está em sua sexta temporada.

No episódio em questão “Dual Spires”, os detetives da série, Shawn e Gus, recebem um e-mail citando o festival da canela da cidade de Dual Spires, os dois acham intrigante, já que adoram torta de canela e nunca ouviram falar da cidade, resolvem então visitá-la, na entrada da cidade se assustam ao ver na placa de “Bem Vindo a Dual Spires” como a cidade é pequena(288 habitantes). Ao chegar vão direto a lanchonete para poder experimentar as tortas de canela. Depois acabam sabendo que a sobrinha dos donos da lanchonete, Paula Merral, está desaparecida tem alguns dias e se oferecem para investigar em troca de tortas.

*Os detetives da série recebem o e-mail de um remetente com o nome de “eu@sobasunhas.com”. Em Twin Peaks foi encontrado um papel com uma letra cravado dentro da unha de Laura Palmer.

*O nome da cidade é Dual Spires (Torres duplas). Referência a Twin Peaks ( Picos Gêmeos), nome da cidade e da série homenageada.

* As Placas de boas vindas das cidade são bem parecidas, possuem o desenho de duas montanhas e a frase “Welcome to Dual Spires" e "Welcome to Twin Peaks" aperecem respectivamente nelas.

*Os habitantes de Dual Spires são estranhos como em Twin Peaks. Gus observa que é o único negro na cidade. Como esse fato não se mostra relevante no restante do episodio talvez seja uma referência ao fato de Twin Peaks não ter nenhum personagem negro.

*Na lanchonete " A Serraria", o dono da lanchonete é vivido pelo ator Dana Ashbrook que em Twin Peaks era Bobby, namorado de Laura Palmer, aqui ele também se chama Bob. Em Twin Peaks, Bobby/Bob era tanto o nome do namorado quanto do homem que abusava de Laura Palmer em suas alucinaçoes.

*o nome da lanchonete é e referência a uma Serraria que tinha em Twin Peaks, pertencente aos Packard e onde o corpo de Laura foi encontrado. E a decoração da lanchonete lembra a decoração da lanchonete que era frequentada pela maioria das personagens de Twin Peaks.

* A lanchonete “A Serraria”é especializada em torta de canela. Em Twin Peaks o Agente Dale Cooper amava a torta de maçã da lanchonete de Norma.

*A mulher do dono da lanchonete também fazia uma personagem na segunda temporada de Twin Peaks, era Lana uma garota que seduzia velhinhos. Essa só me lembrei por causa do IMDB ja que a personagem era menor na série.

*Quando estão na lanchonete aparece o Xerife Andrew Jackson(Lenny Von Dohle), em Twin Peaks o mesmo ator vivia o misterioso Harold Smith, que descobrem ter sido confidente de Laura e guardião de seu diário secreto.

*A cidade de Dual Spires não tem sinal de celular e não tem internet. Na época de Twin Peaks essas tecnologias eram praticamente inexistentes.

* Os organizadores do festival mostram uma coruja feita de canela. Coruja é um animal recorrente em Twin Peaks.

*O nome da coruja é Leo, nome do violento namorado de Shelly(Madchen Amick), garçonete e amante de Bob em Twin Peaks.

*O corpo de Paula Merral é encontrado jogado no lago. A forma como o corpo está enrolado no plástico é igual a forma como Laura é encontrada. E Paula Merral é anagrama de Laura Palmer, esse eu demorei para identificar. rs

*A atriz que interpreta a médica que faz a necropsia no corpo é nada mais nada menos que Sheryl Lee. Quem é Sheryl Lee? A atriz que interpretou Laura Palmer, cujo assassinato foi o mote principal de Twin Peaks. Ela depois voltava na série como Madeleine, prima bem parecida com Laura. Acaba tendo o mesmo destino, coitada. Mas a cena da morte de Madelleine serve para que o público descubra quem é o assassino de Laura.

*O Xerife diz aos tios de Paula que ela sempre saia de casa escondida a noite. Laura também tinha uma vida noturna desconhecida da maioria da cidade.

*Um dos policiais da cidade é de origem indígena e lembra Michael Horse ator indígena que em Twin Peaks era o policial Hawk.

*Shawn recebe uma mensagem com a frase "Quem matou Paula Merral?". "Quem Matou Laura Palmer" era uma das taglines de Twin Peaks.

* A abertura imita a de Twin Peaks em alguns aspectos e a música tem os mesmos acordes e é cantada por Julee Cruise. Julee aparece cantando em alguns episódios de Twin Peaks e é autora de canções da trilha da série.

* Os policiais de Santa Barbara estão vendo uma mesa cheia de Donuts. Em Twin Peaks mesa cheia de donuts sempre eram vistas na delegacia quando Dale Cooper estava lá.

*A doutora que cuida do corpo de Paula se chama Donna. Mesmo nome da melhor amiga de Laura em Twin Peaks.

*Na sala de espera da Dra. Donna, que também é veterinária, tem um senhor com um corvo em uma gaiola. Em Twin Peaks um corvo é uma das chaves do mistério.

* Quando saem do consultório encontram uma senhora com um tronco na mão, igualzinha a Senhora do Tronco, uma personagens de Twin Peaks que sempre andava com um pedaço de madeira nos braços. A personagem é inclusive vivido pela mesma atriz Catherine E. Coulson em Psych. A diferença é que em Twin Peaks ela realmente conversa com o tronco. Em Psych eles pensam que ela está falando com ele mas ela está falando com um garotinho que aparece depois.

*A escadaria e o ventilador da casa do xerife imitam a da casa da familia Palmer.

*Randy, filho do Xerife, e Paula dividiam um par de brincos . Se não me engano Laura e James(seu amante e verdadeiro amor) também compartilhavam pingentes. E a cena dramática de Randy chorando e chamando por Paula acredito que seja imitando uma cena de James em Twin Peaks.

*Os personagens vão a uma biblioteca e a bibliotecária Mauddette é interpretada pela atriz Sherilyn Fenn. Em Twin Peaks ela era Audrey, a garota mimada que não gostava de Laura mas acabava se envolvendo nas investigações ao se apaixonar pelo agente Cooper.

*Maudette está tomando Cherry Coke e pergunta aos detetives: "o de cereja não é o melhor?". Uma das cenas mais famosas de Twin Peaks é a que Audrey dá um nó em um talo de cereja com a língua. Maudette também possui cerejas tatuadas no dedo.

*Em Dual Spires temos algumas falas estranhas misturadas com coisas de cotidiano(se quiser levar um livro precisa de uma ficha na biblioteca), personagens que sempre parecem ter algum segredo e alguns malucos, como um velho fazendo gestos estranhos na lanchonete. Isso era bem comum em Twin Peaks.

*A foto de formatura de Paula é exatamente igual a de Laura que sempre aparecia nos créditos finais da série.

*A irmã de Paula se chamava Lucy, mesmo nome da recepcionista da delegacia de Twin Peaks. (talvez seja so´coincidência)

*O diário de Paula é encontrado em seu quarto. Laura tinha dois diários, um deles secreto,que foram utilizados para ajudar nas investigaçoes. O diário secreto foi publicado em livro devido ao sucesso da série.

*Como uma parte do diário de Paula está escrito em latim(para que outras pessoas não lessem) Shawn procura um padre para traduzir. Ray Wilse interpreta o padre e em Twin Peaks ele era o pai de Laura, Leland Palmer.

*Paula era namorada de Randy mas também saia com Jack. Assim como Laura que namorava Bob e ficava com James as escondidas.

*Em twin Peaks os detetives descobrem a ligação de James com Laura por causa de um vídeo de Laura e Donna em que ele não aparece mas estava filmando, seu reflexo é visto no oculos de Laura. Em Psych, Jack, o outro namorado de Paula, não aparece nas fotos do livro de formatura da turma de Paula, mas suas iniciais estão escondidas nas fotos e Shawn, que é medium, encontra. Jack que fez as fotos do álbum.

*Shawn quebra um vidro na casa de Jack... lembrei me da técnica de quebrar vidros para descartar suspeitos usado por Dale Cooper. Mas ai pode ser só forçação de barra minha.

*Jack esteve com Paula antes dela morrer. Assim como James esteve com Laura.

*Maudette é encontrada enforcada na biblioteca, aparentemente cometeu suicídio. Mesmo fim de Harold Smith em Twin Peaks.

*Em Twin Peaks, Leo (Eric Dare) amarra sua mulher em uma sala da serraria e coloca fogo. Ela é salva pela dona da serraria que usa uma machadinha para cortar a corda. Aqui a biblioteca é incendiada com Shawn e Gus presos dentro. São salvos pelo padre que usa uma machadinha para quebrar a porta.

*O padre aparece com o cabelo branco(uma freira pintou seu cabelo para esconder os fios brancos). Em Twin Peaks o pai de Laura(mesmo ator que faz o padre) ficava com o cabelo branco misteriosamente.

*No final tudo é resolvido em uma cabana com cortinas vermelhas e fogo na lareira... fogo e cortina vermelha são símbolos que sempre aparecem em Twin Peaks. O filme que procedeu a série tinha como subtítulo "Fire Walk With Me"( Fogo anda comigo)

*Jack na última cena aparece com um terno vermelho e dançando, em Twin Peaks existia um anão que aparecia em algumas cenas de delírio que usava terno vermelho e aparecia dançando da mesma forma que Jack.

*Jack também usa um tapa olho como a personagem Nadine de Twin Peaks.

*Nessa cena final que se passa na lanchonete Shawn e Juliet se assustam com o comportamento dos habitantes de Dual Spires e vão embora; Eles são inofensivos mas assustadores e malucos como em Twin Peaks. Até Carlton(personagem fixo de Psych) se comporta como um deles e lembra um personagem que David Lynch(criador de Twin Peaks) interpretava na série. Lembrando que quando ele chega a cidade ele chega reclamando de tudo como o personagem Albert(Miguel Ferrer) fazia sempre que chegava em Twin Peaks.

sábado, 3 de abril de 2010

Intolerância Religiosa

A atitude dos jogadores dos Santos que por motivos religiosos se recusaram a visitar um lar espírita que cuida de crianças com paralisia cerebral revela uma realidade preocupante, o preconceito com respeito à religião não é relegado a um passado obscuro ou a países intolerantes do Oriente Médio. O Brasil ainda tem mais que resquício desse pensamento retrograda, se o chute a imagem de Nossa Senhora Aparecida que o bispo Von Helder deu em 1995 deixou a sociedade embasbacada ninguém se escandaliza com a demonização de religiões africanas feita por programas religiosos principalmente da Rede Record, pertencente à Igreja Universal do Reino de Deus.

É curioso que um país com nomes que defendem o ecumenismo com tanta propriedade como Leonardo Boff tenhamos casos tão gritantes de intolerância. Robinho, Neymar, Ganso e Roberto Brum pelo jeito não frequentaram todas as aulas da escola dominical ou teriam conhecimento sobre a parábola do bom samaritano, aquela em que Jesus conta a história de um cara que resolve ajudar um pobre coitado que foi assaltado sem perguntar sua procedência e sem esperar nada de volta com isso, no final Jesus decreta que devemos "... amar ao próximo como a si mesmo...”. Será que para eles essas crianças não eram suas próximas por serem supostamente de outra religião.

O colunista Cosme Rimoli do site R7(que pertence a Universal, coincidência?) ainda tentou limpar a barra deles os colocando como mártires revolucionários que quebram uma tradição de hipocrisia, e se enrolou misturando alhos e bugalhos e colocando o goleiro Marcos do Palmeiras no meio do rolo no que foi ironizado pelo assessor de imprensa do time palestrino. Cosme escreveu a pérola rara:

"Como não perceber a alegria que um goleiro com o talento e o coração de Marcos pode levar a uma criança terminal? /Mas por que fazer desse encontro um show para a mídia? /Quem ganha com isso? /E em seguida, o milagre não acontece, e essa criança morre.”

No que o assessor respondeu no site oficial do Palmeiras:

"Bom, não quero aqui supor que você ache desnecessário esses encontros porque a criança não vai viver. Me nego a crer nisso."

Na ânsia em defender os jogadores, por motivos desconhecidos, mas não muito difíceis de imaginar quais são o jornalista não se importou em desmanchar sua credibilidade e saiu atacando assessores de imprensa de clubes de futebol.

Os jogadores se justificaram, alguns talvez até tenham se arrependido de coração, mas esse acontecimento emblemático fica como um aviso dos riscos a estamos submetidos com pessoas que seguem cegamente dogmas e princípios religiosos. Como diz o personagem Dean (Jensen Ackles) em um episódio do seriado Sobrenatural (Supernatural): Deus nos proteja daqueles que acham fazer o Seu trabalho aqui na Terra.

domingo, 3 de janeiro de 2010

A Vergonha de Casoy e a Invisibilidade Social

Para comemorar o ano novo passei o último fim de semana em uma fazenda sem ver TV e sem acesso a internet, acabei sabendo só hoje da polêmica envolvendo Boris Casoy, âncora famoso pela utilização do bordão "Isso é uma Vergonha" e por criminalizar movimentos sociais e a esquerda em geral, e que segundo comentam já esteve envolvido com o CCC (Comando de Caça aos Comunistas). Após o Jornal da Band veicular uma matéria sobre garis em que no final esses desejam feliz natal, Casoy ironizou os votos com o seguinte comentário:

"Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto da suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho".

Claro que ele não disse isso diretamente para as câmeras, mas em off, porém o áudio vazou enquanto passava a vinheta e todos ouviram o comentário preconceituoso seguido por gritos desesperados provavelmente do responsável pelo som: "Deu pau, deu pau, deu pau..."

No dia seguinte Casoy ainda tentou "pedir desculpas profundas pelo comentário infeliz” (sic), mas o estrago já estava feito, nesse tempo de internet é difícil colocar no esquecimento um comentário como esse como aconteceu com o "coisa de viado" que o Pedro Bial comentou no Fantástico após a transmissão de uma noticia sobre balés, quando muito tempo depois esse vídeo caiu na internet o barulho já tinha sido abafado, no caso de Casoy praticamente no mesmo dia isso já era assunto e ninguém falava em outra coisa, o vídeo no Youtube fez sucesso e quase todo mundo comentou no Twitter.

Casoy explicitou algo que nós brasileiros temos dificuldades em reconhecer, o preconceito social, assim como o racial ainda existe, conheço pessoas que se incomodam em morar em um prédio que não tenha elevador social, que acha que festa de empresa tem que ser separada e que um garçom não deve nunca fazer um comentário para as pessoas da mesa que não seja "o que deseja" ou "bom apetite". É difícil reconhecermos que não somos o país que respeita a diversidade, o país em que pobres, ricos, negros e brancos convivem em total sintonia.

No fundo todos Querem que os pobres apenas façam seu trabalho e se mantenham na sua só se dirijam aos demais quando forem perguntar algo útil relacionado ao trabalho. No livro "Homens Invisíveis - Relatos de uma Humilhação Social” (Editora Globo, 2008) o psicólogo Fernando Braga da Costa que conviveu 10 anos com os garis da Cidade Universitária da USP, trabalhando junto deles e uniformizado como eles relata como esses trabalhadores são humilhados por aqueles que têm que lhes dar as ordens e como são ignorados pelos demais como se fossem invisíveis, como se não fossem pessoas mas apenas a parte feia da decoração da cidade que não merece nada mais que o desprezo. Fernando sentiu na pele toda a labuta dos garis, mexendo em lixo tóxico sem utilização de máscara ou roupa especial, varrendo debaixo de chuva ou sol, aguentando humilhações e enfrentando o desaparecimento proporcionado pelo uniforme, o próprio autor deixava de ser percebido por alguns amigos e professores quando utizava a roupa própriados trabalhadores.

Infelizmente casos como o de Casoy não são raridade nesse país, essas pessoas da "mais baixa escala de trabalho" precisam aguentar todos os dias esse tipo de insulto, além de sofrer com baixos salários e falta de perspectivas. Imagine um desses sujeitos animado por aparecer na TV, chega em casa e chama família e amigos para assistir o telejornal, compra uma cerveja e reúne todos na sala apertada e quando finalmente se encerra a reportagem tem a decepção de ouvir esse comentário esnobe. Em Homens invisíveis Fernando relata o quanto ficou magoado quando uma garota pré-adolescente ironizou um dos garis que trabalhavam com ele. O quanto se sentiu mal pensando em um senhor que sai de casa para fazer o seu trabalho pesado e ainda tem que suportar piadas de uma criança cruel e grosseira, o mesmo deve ter acontecido a esses garis e a Rede Bandeirantes não pode deixar isso assim. Demissão é o mínimo para o reacionário do Casoy.

Desculpem o desabafo.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Heróis Sem Reconhecimento


Procure pelos seguintes nomes no Google e terá os seguintes números aproximados de citações:

Harald Edelstam - 58300/Oskar Schindler - 387000/Paul Rusebagina - 75600
Augusto Pinochet - 3.610.000/ Adolph Hitler 7.280.000/Joseph Stalin - 14.600.000

O que diferencia os primeiros dos segundos? Bom, a diferença é que enquanto os primeiros se preocuparam em salvar milhares de vidas os segundos foram responsáveis pela morte de milhões de pessoas. Sei que estou sendo simplista e que vários fatores influenciam para que o nome de Pinochet e os demais tenham mais audiência, inclusive o fato de terem sido lideres de nações, o que me estranha é que os que poderiam ser considerados heróis só recebam nota de rodapé na história. Mesmo Schindler que foi personagem de um filme de Spielberg e que participou de uma parte bem mais conhecida e divulgada da história é pouco comentado, talvez para não ofuscar os americanos, vencedores da 2ª Guerra Mundial, “salvadores do mundo”.
Por falar em americanos seria bom falar desse primeiro nome citado, Harald Edelstam era embaixador sueco no Chile quando o exército chileno apoiado pelos yankees, ”grandes defensores da democracia” (outra vez entre aspas), atacaram o Palácio do governo, provocando o suicídio do então presidente, Salvador Allende e colocando Pinochet no poder. Durante a ditadura de Pinochet cerca de 3200 pessoas desapareceram. Edelstam conseguiu salvar mais de 1300 pessoas das mãos sanguinárias do exercito chileno antes de ser expulso do país e ainda denunciou para a imprensa estrangeira toda a barbárie que estava acontecendo, já que a imprensa local apoiava o golpe e escondia que oposicionistas e colaboradores de Allende estavam sendo exterminados em massa no Estádio Nacional do Chile. Harald encarou o exército e deu a cara à tapa, salvando inclusive a embaixada de Cuba de ser atacada pelos golpistas. Um filme sobre ele acaba de ser lançado, intitulado “O Cavaleiro Negro”, mas por não ser uma produção Hollywoodiana com atores conhecidos ninguém espere um grande lançamento por aqui, por enquanto só passou em festivais e como já tem mais de um ano dificilmente será lançado no circuito comercial, talvez seja lançado em DVD mas enquanto isso basta procurar pela internet que tem para download com legendas em português.

O ultimo de nossa lista é Paul Rusebagina, gerente de hotel de luxo em Ruanda quando começou o massacre aos membros da etnia Tutsi pelos Hutus. Havia tempos as tensões estavam à flor da pele no país até que em 1994 os Hutus, etnia majoritária do país resolveram atacar, sobre incentivo de radialistas e de membros do governo pegaram em facões, paus e tudo que pudesse servir como arma e saíram a matar vizinhos, amigos, colegas de trabalho e até parentes que pertenciam a outras etnias. Não foi uma luta entre tribos isoladas como nos faziam acreditar os jornais da época, envolveu religiosos, políticos, profissionais liberais e praticamente toda a população tanto do lado das vitimas quanto dos assassinos. E Paul, que pertencia à etnia majoritária Hutu aproveitando da ausência de seus patrões e de hóspedes no hotel alojou 1200 pessoas da etnia perseguida no hotel e fazendo subornos aos lideres dos massacres e outras artimanhas conseguiu esconde-los e escoltá-los para um campo de refugiados. Só 10 anos depois o mundo parou para prestar atenção ao episódio com o filme “Hotel Ruanda” com Don Cheadle como Paul e Sophie Okonedo como sua esposa, ambos indicados ao Oscar de ator e atriz coadjuvante respectivamente. Além do filme recomendo a leitura dos livros “Gostaríamos de informá-lo que amanha seremos mortos com nossas famílias” de Philip Gourevich, editora companhia de bolso e “Sobrevivi para Contar” de Imaculee Ilibagiza, editora Fontanar. O primeiro é de um jornalista americano que visitou o país dois anos após o evento para entrevistar sobreviventes e o segundo foi escrito por uma sobrevivente que relata como sobreviveu junto com outras sete mulheres escondidas em um banheiro minúsculo na casa de um pastor. É interessante ler os dois para conhecer a história sob pontos de vista diferentes.

Paul, Oskar e Harald são pessoas que como diz a tagline de “Cavaleiro Negro”, fizeram a diferença, poderiam ter lavado as mãos e fingido que nada estava acontecendo. Paul se quisesse poderia ter escondido apenas sua esposa que era Tutsi e sua família no hotel, correria menos riscos e se brincar ainda seria considerado herói. Poderia também ter se unido a turba que clamava pelo sangue inocente e arrancado milhares de cabeças de tutsis. Edelstein não precisaria nem tomar conhecimento das execuções que aconteciam no estádio chileno, como fizeram outros embaixadores poderia continuar fazendo suas recepções e até ter sido amigo do Coronel Pinochet. O famoso Schindler a principio era apenas mais um empresário aproveitando da mão de obra barata dos judeus para enriquecer facilmente, poderia ter continuado assim e ficar indiferente ao destino dos que trabalharam para ele como fizeram vários magnatas da época. Mas parece que o destino se propõe a pregar peças e revelar os verdadeiros salvadores, pessoas de carne e osso que se viram forçados a agir em situação adversa. Seria por um grande sentimento humanitário? Ou será que receberam um chamado divino como Moisés ao ver a sarça ardente no deserto?Talvez queriam entrar para história ou puro e simples remorso. Não importa o motivo a humanidade agradece e sem medo de ser piegas plageia Spielberg no final de “A Lista de Schindler” atestando que quem salva uma vida, salva o mundo inteiro.

Curiosidade: O golpe chileno ocorreu no dia 11 de Setembro de 1973, no filme 11 de setembro em que 11 diretores do mundo inteiro apresentam sua visão sobre os atentados ao World Trade Center o diretor inglês Ken Loach em seu episódio mostra um chileno exilado mandando uma carta para os norte-americanos em que faz um paralelo entre os dois acontecimentos, qualquer dia comento esse filme aqui.

Quando Pinochet morreu o político brasileiro Jarbas Passarinho (um dos artífices do golpe brasileiro) comentou ao G1: “Foi um homem que, num momento azado (oportuno), salvou o Chile de ser um país marxista presidido pelo Allende, que chegou a receber Fidel Castro em Santiago com toda a pompa. Ele deixa o Chile numa situação econômica estável e invejável, cuja recuperação é fruto do seu governo.”

É para rir?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Barriga

Não existe nada pior que "barriga", e não estou falando do resultado de seu sedentarismo, caro leitor (se é que alguém vá ler isso), estou falando do costume de roteiristas de alongar suas tramas até o limite do insuportável quando essas começam a fazer sucesso, inserem uns novos personagens ou colocam em destaque outros até então irrelevantes e destrói a paciência de quem está acompanhando novelas e seriados, quem acompanha seriados deve ter percebido que eles chegam a um ponto em que já poderiam ser encerrados, mas seus produtores continuam lançando novos fatos e situações que só servem para “encher linguiça” e interessam muito pouco. O fato é que a TV vive de dinheiro e se os produtores não possuem pudores em tirar do ar uma série com baixa audiência antes de dar um fim à trama, o mesmo se aplica a estender histórias que já não possuem mais nada a oferecer.

Temos inúmeras séries que poderiam ser listadas, mesmo o cultuado Lost vive de adicionar personagens a torto e direito e quando resolvem um mistério outros 10 são adicionados, o caso mais emblemático foi a inclusão do casal Nicky(Kiele Sanchez) e Paulo(Rodrigo Santoro) na ilha, apesar de ter mexido em nosso orgulho cívico ao colocar Santoro, um brasileiro, no cast do seriado não serviu para mais nada, ambos se mostraram sem importância e desconectados do contexto geral, talvez por terem chegado com o "bonde andando". É complicado pro telespectador estar acostumado com um grupo de pessoas e olhar para duas novas fazendo de conta que ela estavam lá o tempo todo como quiseram fazer parecer na série. Já diziam os manifestantes do Diretas Já, O povo não é bobo.

Outro caso é Prison Break, na primeira temporada temos a história de Michael Scofield (Wentworth Miller) que dá um jeito de ser preso para livrar o irmão de ir para a cadeira elétrica por um crime que não cometeu. Toda a temporada, inverossimilhanças a parte, se concentrava em seu plano de fuga e era interessante e divertido vê-lo sendo colocado em prática. Na segunda Temporada, Michael, o irmão e outros presos que ele teve que ir agregando a seu plano são mostrados percorrendo o país perseguidos pela justiça e por um cara do FBI tão astuto como o protagonista e que consegue prever muitos dos seus movimentos. Todo um clima de conspirações, perseguições e adrenalina contribuiu para que série se tornasse um sucesso, mas o mais óbvio é que depois que os irmãos conseguissem se livrar das acusações tivessem um final feliz junto com o que restou de sua família. Mas o sucesso do programa tornou obrigatória uma terceira temporada, já que tudo tinha se esgotado porque não colocar Michael na cadeia de novo? Mas trazê-lo de volta a antiga prisão não funcionaria, era fichinha, tinha que ser algo mais barra pesada. Deram então um jeito de colocá-lo junto com boa parte do elenco da temporada anterior em uma prisão de terceiro mundo, no caso o Panamá. Michael deveria ter assistido o seriado Blossom, em um episódio Joey (Joey Lawrence) comentando sobre o filme "Expresso da Meia Noite" diz que se você quer cometer um crime não pode escolher a Turquia já que lá as pessoas são más. Se ele tivesse visto saberia que isso se aplica a todos os países de terceiro mundo, pelo menos na visão dos roteiristas de cinema e televisão em Hollywood. Na nova prisão a lei não existe você tem que matar um leão por dia para sobreviver e mesmo os presos sendo deixados ao Deus dará não existe possibilidade quase nenhuma de fuga, e da- lhe repetições de situações da primeira temporada, saturação de clichês, simplesmente deixamos de nos importar com os personagens de tão previsível.

Nem as séries dramáticas escapam dessa armadilha, "A Sete Palmos", sobre uma família que cuida de uma funerária e vive seus dramas do dia-a-dia enquanto cuidam de velórios e embalsamamentos teve uma terceira temporada mais arrastada que novela e ainda inseriu uma nova personagem que era um "purgante", a insuportável Lisa (Lili Taylor).

Também é importante saber que isso não é fato recente já que na década de 70 adicionaram um personagem chamado Primo Oliver em uma série de sucesso para poder ter mais argumentos. Erro fatal, pois caiu a audiência e o seriado foi cancelado. Daí em diante "Cousin Oliver" passou a ser referência de personagem adicionado no meio da história. Ainda tivemos Dallas, série famosa dos anos 80 e que vivia ressuscitando personagens e adicionando novos à medida que a audiência oscilava, tiveram a audácia de transformar uma temporada inteira em sonho de uma personagem só para justificar o retorno do marido dela que tinha morrido na temporada anterior. E por fim a ótima série Twin Peaks de 1989, que tinha como mote a pergunta "Quem Matou Laura Palmer?". Resolvido esse mistério algum gênio achou por bem estende-la já que fazia muito sucesso, só que o criador da série, David Lynch, se afastou para dirigir um filme e os novos diretores e roteiristas acharam que transformar tudo em uma chanchada sem pé nem cabeça bastaria para segurar os telespectadores, basta dizer que o triângulo amoroso cômico entre a recepcionista da delegacia, um guarda e um atendente de loja passou a ser uma das principais tramas da série. Como era de se prever, a audiência caiu e quando Lynch retornou, o estrago era muito grande para ser consertado. Dizem que inclusive alguns dos atores se recusaram a participar no filme que servia de prequel a série exatamente pelo descaso do diretor com sua obra.

Claro que certa irregularidade em séries é normal pelo fato de ter diferentes diretores e roteiristas trabalhando em cada episódio, o problema é quando a série se desestrutura e deixa de ficar interessante, pior ainda quando perde o foco de seu eixo principal, muitas vezes chega ao final apenas um fiapo do que a série prometia, e pro telespectador fica aquela incerteza, se a série não fizer sucesso corre o risco de cancelarem antes de qualquer solução dos mistérios e se do contrário fizer muito sucesso podem começar a enrolar até tirar a vontade de ligar a TV no horário para ver os próximos episódios.